
Os combustíveis de vegetais poluem mais do que os de origem fóssil, dizem pesquisas recentes. É má notícia para o Brasil
Optar pelo etanol na hora de encher o tanque do carro é uma atitude ecologicamente correta, mas pode não passar disso – simplesmente uma maneira de aliviar a consciência. Duas pesquisas científicas publicadas na revista Science dizem que a produção de biocombustíveis emite mais gases do que a queima de petróleo e gás natural.
O que dizem as pesquisas? A simples queima de combustíveis de vegetais emite, claro, menos gases do que os de origem fóssil, como o petróleo. Mas essa conta é simplista demais, indicam estudos da ONG The Nature Conservancy e da Universidade de Minnesota. Ao se levar em conta toda a produção desse biocombustível, a vantagem é revertida. Tome-se a cana-de-açúcar como exemplo. É preciso desmatar a terra para plantio, usar máquinas colheitadeiras e picar a planta em moendas. O caldo fermentado é centrifugado e bombeado para as colunas de destilação. Em seguida é aquecido. Todo esse processo gera muito gás carbônico.
É possível calcular a quantidade de emissão? Sim. A transformação de milho, cana-de-açúcar, óleo de palma e soja em combustível gera de 17 a 420 vezes mais gás carbônico na atmosfera que a economia promovida pela substituição de petróleo e gás natural. Também foram estimados os danos causados pelo desmatamento. Seriam necessários 137 anos para que as plantações de milho nos Estados Unidos, já perenes, deixem de emitir gases. No caso da soja que avança sobre a Amazônia esse prazo chegaria a 319 anos. O caso menos vantajoso é o do óleo de palma da Indonésia: 423 anos.
O debate do biocombustível (polui ou não) terá repercussões mundiais? Sim. Os números apresentados nos estudos são os mais precisos até agora, mas o assunto vem sendo cada vez mais debatido. Em janeiro deste ano o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, participou de uma mesa de discussão no Fórum Econômico de Davos, na Suíça, sobre o aumento do preço dos alimentos e do consumo de água para irrigação dos plantios causados pela produção de biocombustíveis. “A agricultura global já produz alimentos para 6 bilhões de pessoas. Extrair combustíveis de vegetais irá demandar mais terra para a agricultura”, disse Joe Fargioni, da Nature Conservancy, ao jornal britânico The Independent.
Por que é má notícia para o Brasil? O Brasil produz 35% do biocombustível do mundo. Está atrás apenas dos Estados Unidos, com 37%. Um setor poderoso da economia brasileira vive em função da cana-de-açúcar. As usinas movimentam R$ 40 bilhões por ano. Entre engenheiros, agrônomos e cortadores de cana são 3,5 milhões de empregos. O biocombustível é uma bandeira forte da política externa do governo Lula.
Os dados ameaçam, portanto, a produção de etanol? Por ora não, mas a percepção sobre o assunto está mudando, e isso pode levar a uma redução na produção mundial já nos próximos anos. Os grupos ambientais, apoiados pela ONU, a maior defensora dos biocombustíveis, admitem que houve euforia em relação ao assunto, diz o International Herald Tribune. “Houve um esforço infeliz de transformar os biocombustíveis na bala de prata da mudança climática. Os critérios de sustentabilidade precisam ser revistos”, diz Nicholas Nuttall, porta-voz do Programa de Meio Ambiente da ONU.
Fonte: Revista da semana
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