domingo, 18 de janeiro de 2009

A BULA DO VIAGRA

- Vai, Horácio. Toma logo.

- Eu não tomo nada sem antes ler a bula.
Cadê meus óculos?

- Pendurados no seu pescoço.

- Isso é ridículo, Maria
Helena.
Ridículo!!!

- Então, todos os homens da sua idade são ridículos.
Porque todos
estão tomando! E não me puxa esse lençol, fazendo o favor. Olha
aí o bololô que
você me faz nas cobertas!

- A humanidade conseguiu crescer e
se multiplicar
durante milênios sem isso. Nós dois crescemos e nos
multiplicamos sem isso. Taí
o Pedro Paulo, taí o Zé Augusto que não me
deixam mentir. Fora aquele aborto que
você fez.

- Horácio, eu não vou
discutir isso com você agora. Toma logo esse
negócio.

- Isso aqui faz mal pro
coração, sabia? Um monte de gente já morreu
tentando dar uma trepadinha
farmacêutica.

- Foi por uma boa causa. E não faz mal
coisa nenhuma. Só pra
quem é cardíaco e toma remédio. Você não é cardíaco. Nem
coração você tem
mais.

- Não começa, Maria Helena, não começa.

- Pode ficar
sossegado que você
não vai morrer do coração por causa dessa pilulinha. Eu vi
num programa do
GNT um velhinho de 92 anos que toma isso todo dia.

- Sério?


-Preciso de sexo,
Horácio.

- Mas hoje é segunda, Maria Helena…

- Quero trepar!!!
Foder!!! Ser
comida por um macho de pau duro!!!

- Francamente, Maria Helena, que
boca.
Parece que saiu da zona.

- Quero ser penetrada, quero gozar.

- O sexo é uma
ditadura, Maria Helena A gente tá na idade de se livrar dela.

- Saudades da
dita
dura. Olha só, você me fez fazer um trocadilho de merda.

- Além do mais,
Maria
Helena, nós já tivemos um número mais do que suficiente de relações
sexuais na
vida, por qualquer padrão de referência, nacional ou estrangeiro.
A quantidade
de esperma que eu já gastei nesses anos todos com você dava pra
encher a piscina
aqui do prédio.

- Com o esperma que você ordenhou
manualmente, talvez. O que o
senhor gastou comigo não daria nem pra encher o
bidê aqui de casa. Um penico,
talvez. Até a metade.

- Maria Helena…

- E faz
quase um ano que não pinga uma gota
lá dentro!

- Sossega o facho, mulher. Vai
fazer ioga, tai chi chuan. Já ouviu
falar em feng shui, bonsai, shiatsu ?
Arranja um cachorro. Quer um cachorro ? Um
salsichinha?

- Quero um salsichão,
Horácio. Olha aí: outra piadinha infame.

- É
porque você está com idéia fixa
nessa porcaria.

- Que porcaria?

- O sexo, Maria
Helena, o sexo.

- Sabe o que
mais que deu naquele programa sobre sexo, Horácio?


- Não estou interessado.


- Deu que as mulheres com vida sexual ativa têm muito
menos chance de ter
câncer. É científico.

- Come brócolis que é a mesma coisa,
Maria Helena.
Protege contra tudo que é câncer.. Também é científico, sabia? E
puxado no
azeite, com alho, fica uma delícia.

- A que ponto chegamos, Horácio. Eu
falando de sexo e você me vem com brócolis puxado no azeite!

- Com alho.


-Faça-me
o favor, Horácio.

- Maria Helena, escuta aqui, você já tem 50 anos,
minha filha,
dois filhos adultos, já tirou um ovário, já…

- Não fiz 50 ainda.
Não vem não. E o
que é que filho e ovário têm a ver com sexo?

- Maria Helena,
me escuta. Depois de
uma certa idade as mulheres não precisam mais de sexo.


-Ah, não? Quem decidiu
isso?

- Sexo nessa idade é pras imaturas. Pras
deslumbradas, pras iludidas que
não sabem envelhecer com dignidade.

- Prefiro
envelhecer com orgasmos

- O que é
que o Freud não diria de você, Maria
Helena.

- E de você, então, Horácio? No
mínimo, que você virou gay depois de
velho. Boiola.

- Maria Helena! Faça-me o
favor.. Eu tenho que ouvir isso na
minha própria casa, na minha própria
cama,diante da minha própria
televisão?

- Aliás, gay gosta de trepar. É o que
eles mais gostam de fazer.
Você virou outra coisa, sei lá o quê. Um pingüim de
geladeira, talvez.


-Maria Helena, dá um tempo, tá? Tenho mais o que fazer.


-Fazer? Essa é boa. O
que é que um bancário aposentado com salário integral tem
pra fazer na vida,
posso saber? Ficar jogando bilhar a tarde inteira?

- Sem
comentários, Maria
Helena, sem comentários.

- Tá bom, sem comentários. Bota os
óculos e lê duma
vez essa bendita bula.

- Só que precisa de dois óculos pra ler
isso. Olha só
o tamanhico da letra. Se é um negócio pra velho, deviam botar uma
letra bem
grande. Pelo menos isso.

- Vira o foco do abajur para cá… assim…
melhorou?


-Abaixa essa televisão também. Não consigo me concentrar ouvindo
novela.
Mais. Mais um pouco.

- Pronto, patrãozinho. Sem som. Vai, lê duma vez.

- O
princípio ativo do medicamento é o citrato de sildenafil.

- Sei.

- Veículos
excipientes: celulose microcristalina…

- Celulose vem da madeira. Pau,
portanto.
Bom sinal.

- Onde foi parar a sua pouca educação, Maria Helena?


- Vai lendo,
Horácio. Depois conversamos sobre a minha pouca educação..

- Cros…
camelose
sádica. Croscamelose. Castrepa, Maria Helena. Me recuso a tomar um
troço com
esse nome. Deve ser alguma secreção de camelo. Se não for coisa
pior.

- Não é
camelose. Num tá vendo aí? É caRmelose.. Deve ser algum
adoçante artificial. Pro
seu pau ficar doce, meu bem.

- Putz. Só rindo mesmo.
A menopausa acabou com a sua
lucidez, Maria Helena.

- Troco toda a lucidez do
mundo por um pau tinindo de
tesão por mim.

- Absurdo, absurdo.

- Que mais, que
mais, Horácio?

- Dióxido de
titânio.

- Ah, titânio. Pro negócio ficar bem
duro.

- índigo carmim…- índigo? Deve
ser o que dá o azul da pilulinha.

- Será
que esse negócio não vai deixar o meu
pau azul, Maria Helena?

- E daí, se
deixar? Você não sai por aí exibindo o seu
pênis, que eu saiba. Ou sai?


-Mas, e se eu for a um mictório público? o que é
que o cara ao lado não vai
pensar do meu pinto azul?

- Diz que você é um
alienígena, ora bolas. Que o
seu corpo está pouco a pouco se adaptando à Terra,
que ainda faltam alguns
detalhes. Ou explica que você é um nobre, de sangue e
pinto azul. Ou não diz
nada, ora bolas. Acaba de mijar, guarda o pinto azul e
vai embora, pô.


-Escuta. Agora vem a parte que explica como esse petardo
funciona.

- Isso.
Quero ver esse petardo funcionando direitinho.

- Presta atenção.
‘O óxido
nítrico, responsável pela ereção do pênis,ativa a enzima guanilato
ciclase,
que, por sua vez, induz um aumento dos níveis de monofosfato de
guanosina
cíclico, produzindo um relaxamento da musculatura lisa dos corpos
cavernosos
do pênis e permitindo assim o influxo de sangue:’ Cacete. Corpos
cavernosos
Já pensou, Maria Helena? Corpos cavernosos sendo inundados de sangue?
Puro
Zé do Caixão.

- Corpo cavernoso só pode ser herança do homem das cavernas.
Vocês homens evoluem muito lentamente.

- Pára de viajar, Maria Helena. Parece
que
fumou maconha.

- Não era má idéia. Pra relaxar. Vou roubar do Pedro
Paulo. Eu sei
onde ele esconde. Podíamos fumar juntos.

- Eu já tô relaxado.
Tô até com sono,
pra falar a verdade.

- Lê, lê, lê, lê aí. Você já dormiu
tudo a que tinha direito
nessa vida.

- Vou ler. ‘Todavia, o sildenafil não
exerce um efeito relaxante
diretamente sobre os corpos cavernosos..:’

- Não?


-Não, Maria Helena. Ele apenas
‘aumenta o efeito relaxante do óxido nítrico
através da inibição da
fosfodiesterase-5, a qual’ - veja bem, Maria Helena,
veja bem - ‘a qual é a
responsável, pela degradação do monofosfato de
guanosina cíclico no corpo
cavernoso?’. Ouviu isso?- Degradação, Maria
Helena. Dentro dos meus próprios
corpos cavernosos. Degradante..

- Degradante
é pau mole..

- Olha o nível, Maria
Helena! Olha o nível!! Vamos ver os
efeitos colaterais. Olha lá: dor de cabeça.
Você sabe muito bem que se tem
uma coisa que eu não suporto na vida é dor de
cabeça.

- Na cultura
judaico-cristã é assim mesmo, Horácio. Pra cabeça de baixo
gozar, a de cima
tem que padecer.

- Não me venha com essa sua erudição de
internet, Maria
Helena. Estamos off-line.

- Deixa de ser criança, Horácio. Se der
dor de
cabeça você toma um Tylenol, reza uma ave-maria, canta o ‘Hava Naguila’
que
passa.

- Outro efeito colateral: rubor. Rá, rá. Vou ficar com cara de quê,
Maria Helena? De camarão no espeto?

- Se for camarão com espeto, tá ótimo.
Que
mais, que mais?

- Enjôos. Ó céus! Enjôos…

- Você sempre foi um tipo
enjoado,
Horácio. Ninguém vai notar a diferença.

- Vamos ver o que mais…
hum.. dispepsia.
Que lindo. Vou trepar arrotando na sua cara.

- Você me come
por trás. Arrota na
minha nuca.

- É brincadeira.. É essa a sua idéia de amor,
Maria Helena?

- Isso não
tem nada a ver com amor, Horácio. Já disse: é
profilaxia contra o câncer. E
arrotar, você já arrota mesmo o dia inteiro,
sem a menor cerimônia. Na mesa, na
sala, em qualquer lugar.

- Como se você
não arrotasse, Maria Helena.

- Mas não
fico trombeteando os meus arrotos.
Isso é coisa de machão broxa. Em vez de
trepar com a esposa, fica arrotando
alto pra se sentir o cara do pedaço.

- Como
você é simplória, Maria Helena,
como você é…. menor. Desculpe, mas acho que o
seu cérebro anda encolhendo,
sabia? Ou mofando. Ou as duas coisas.

- Vai,
Horácio, chega de conversa mole.
E de pau idem. Pula os efeitos colaterais.


-Como , ‘pula os efeitos
colaterais’? É porque não é você quem vai tomar essa
meleca, né? Vou ler até
o fim. Os efeitos colaterais são a parte mais
importante. Olha lá: gases.
Que é que tá rindo aí?

- Do efeito cu-lateral.
Desculpa. Esse foi de
propósito. Não agüentei..

- Admiro seu humor refinado,
Maria Helena. Torna
você uma mulher tão mais sedutora, sabia?

- Obrigada,
Horácio.’Agora, quanto
aos seus gases, pode relaxar o esfíncter, meu filho. Numa
boa. Tô tão
acostumada que até sinto falta quando estou sozinha. Sério. Fico
pensando:
Ah, se o Horácio estivesse aqui agora pra soltar uma bufa de feijoada
com
cerveja na minha cara…

- Maria Helena, qualquer dia você vai ganhar o Oscar
da vulgaridade universal.

- Vou dedicar a você.

- Vamos ver que mais temos
aqui em
matéria de efeitos colaterais. Ah! Congestão nasal. Que gracinha.
Vou ficar
fanho, que nem o Donald. Qüém,qüém. Qüém.

- Um pateta com voz de
pato. Perfeito.


- Ridículo. Absurdo. Idiota.

- Ridículo você já é, Horácio. E
quem não é? Além do
mais, é só calar a boca que você não fica fanho.

- Ah,
tá. E se eu quiser falar
alguma coisa na hora?

- Você não diz nada de
interessante há mais de dez anos,
Horácio. Vai dizer justo na hora de
trepar?

- Eu não nasci para dizer coisas
interessantes a você, Maria Helena.


-Já percebi.

- Hum. Ouve só; diarréia!

- Quê?


-É outro efeito colateral dessa
bomba aqui. Fala sério, Maria Helena. Isto aqui é
um veneno. Não sei como
eles vendem sem receita.

- Deixa de ser pueril, Horácio.
Magina se alguém vai
ter todos os efeitos colaterais ao mesmo tempo. No máximo
um ou dois.

- A
caganeira e os arrotos, por exemplo? Ou a ânsia de vômito e os
gases?

- Faz
um cocozinho antes. Pra esvaziar! Agora, Horácio. Eu espero.

- Eu não
estou
com vontade de fazer cocozinho nenhum, Maria Helena. Faça-me o favor. E
olha
aqui, mais um efeito colateral: visão turva.

- Você bota os seus óculos de
leitura. E que tanto você quer ver que já não viu?

- Maria Helena, você não
entendeu? Essa droga perturba seriamente a visão. Vou ficar cego por sei lá
quantas horas, quantos dias. E tudo por causa de uma reles trepadinha? E se
a
minha visão não voltar? Vou andar de bengala branca pro resto da vida?


-Pode
deixar que eu guio a sua bengala, Horácio. Olha, pensa no lado bom da
cegueira:
você vai poder me imaginar 20 anos mais moça. Trinta, se quiser.


-Maria Helena,
desisto. Não vou tomar essa porcaria e tá acabado.

- Dá aqui
essa cartela,
Horácio. Abre a boca. Pronto. Engole. Olha a água aqui. Isso.
Que foi? Engasgou,
amor?! Tosse pra lá,ô! Me borrifou toda! Que nojo! Quer
que bata nas suas
costas? Ai, meu Deus! Horácio? Você está bem ? Respira
fundo! Isso, isso… E aí,
amor? Melhorou? Morrer afogado num copo d’água ia
ser idiota demais, até prum
cara como você.

- Arrr! E com essa pílula
monstruosa entalada na garganta, ainda
por cima! Ufff! Me dá mais água


- Quanto tempo isso aí demora pra fazer efeito?


-Isso aí o quê?

- A pílula,
Horácio, a pílula.

- E eu sei lá?

- Vê na bula,
Horácio.

- Hum… tá aqui: 30
minutos.

- Ótimo. Dá tempo de ver o fim da minha
novela.

Fonte: Recebi por email. Se vc é o autor deste texto, manifeste-se nos comentários.

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